Será que vale a pena pagar uma pequena fortuna por uma bolsa? Tanner Leatherstein, especialista em couro e sensação do TikTok, responde!

Por Clara Drummond

Para a maioria das pessoas, pode parecer uma loucura comprar uma bolsa cara, acima dos quatro dígitos, para em seguida pegar uma tesoura, cortar cortar cortar, só de curiosidade para saber como aquilo foi feito. O designer turco Volkan Yilmaz faz exatamente isso, filma, e em seguida posta em suas redes sociais (a arroba tanto no Instagram quanto no TikTok é @tanner.leatherstein). O objetivo é informar o público a respeito do verdadeiro valor daqueles objetos. 

A medida pode parecer drástica mas deu resultado: são 400 mil seguidores no Instagram e 750 mil no TikTok. A paixão por couro vai além deste hábito, digamos assim, exótico. Volkan Yilmaz não é um influencer – ele não aceita dinheiro de marcas para analisar bolsas –  e sim seu objetivo é usar as redes sociais como forma de divulgar sua própria marca, PEGAI. “Hoje, há cada vez mais marcas no mercado que oferecem qualidade e design que são análogos a marcas de luxo, mas cobram um preço justo”, conta, que cita como exemplo a marca francesa Polène. “É isso que eu quero para a Pegai”. 

 

A Bem Phyna conversou com ele para saber mais sobre tudo isso. 

Quando você começou a desmontar bolsas de luxo?

Há um ano e meio eu entrei pela primeira vez em uma loja Louis Vuitton. Eu comprei uma bolsa porque queria investigar a sua manufatura, abrir a bolsa, descobrir os materiais usados, etc. 

O objetivo da compra sempre foi destruir a bolsa para postar nas redes sociais?

Sim, eu queria ensinar para o maior número de pessoas possíveis sobre o couro. Antes, eu havia tentado outros formatos, mas não era divertido, era algo mais próximo a uma palestra, e ninguém assistia. Eu percebi que é preciso ter um componente de entretenimento para que as pessoas prestem atenção. Foi aí que tive a ideia de cortar as bolsas, e deu certo. Eu chamo de leathertertainment (em inglês, mistura das palavras leather – couro – e entertainment . entretenimento). 

Você ainda compra as bolsas que destrói nas redes sociais?

No início, eu comprava as bolsas para destruir, mas agora algumas marcas enviam bolsas para inspeção, e faço isso de graça, porque é importante que as resenhas sejam independentes. Eu não recebo dinheiro de nenhuma marca. Eu também criei o Leather Bureau of Investigation: as pessoas me enviam uma bolsa para que eu destrua, e em troca elas ganham uma bolsa da minha marca, a Pegai. É bom porque dá a possibilidade de gerar mais conteúdo ao mesmo tempo que mantém o diálogo com o público.  

Na sua vida pessoal, onde você costuma comprar itens de couro?

Sempre em artesões locais, porque o couro é mais interessante. As imperfeições que tornam cada peça única, e é isso que reflete toda beleza e riqueza desse material. Não há esse tipo de couro nas grandes marcas, é tudo padronizado. 

Há 8 anos, fui trabalhar no meio corporativo, e comprei pela primeira vez uma mala de uma grande marca. Antes disso, eu mesmo fazia minhas malas. Não há o couro autêntico nas grandes marcas, é tudo padronizado, com excesso de acabamento, além de ser tudo muito caro. Isso nunca fez sentido para mim. É um material que é tão bonito naturalmente. A padronização não faz jus à beleza natural do couro. 

Há alguma das grandes marcas que tem seu respeito?

Eu respeito muito o trabalho em couro da Hermès e da Bottega Veneta. Pelo menos, ali tem mesmo algo de especial. Há também várias marcas com qualidade e preço justo, que tem um trabalho em couro tão cuidadoso quanto o que é feito nas marcas de luxo, como Polène, da Paris, Mlouye, da Turquia, Coach, dos Estados Unidos – e, espero, a minha marca Pegai.  

Qual a sua opinião sobre couro falso e couro vegano?

Esses rótulos são confusos. Eu prefiro usar o termo “alternativa ao couro”. Não existe couro vegano porque é um oxímoro. Por definição, couro vem do animal. Às vezes, a indústria faz esse truque de dizer que é “couro vegano”, quando, na verdade, é só plástico. Por um lado, não é mentira, porque realmente não há origem animal. Mas, por outro lado, não é moralmente alinhado com a mentalidade vegana. Quem é vegano está preocupado com o meio ambiente, com a sustentabilidade, e com o impacto de suas escolhas no mundo, é uma filosofia que vai muito além do animal. Por isso, acho que não iriam gostar de saber que compraram algo com o rótulo “vegano”, mas que na verdade vem do petróleo, que é um material muito mais poluente. 

É importante salientar que há sim esforços veganos para criar materiais que parecem couro, e para isso utilizam cactos, uvas, maçãs. Eu respeito muito esses esforços porque é coerente com a mentalidade vegana. É sustentável porque reaproveita restos de comida que iriam para o lixo. Não é uma bolsa de plástico com a etiqueta vegana.

De algum modo, o seu trabalho vai contra a corrente das redes sociais, onde as pessoas ostentam símbolos de poder e riqueza, como bolsas caríssimas. 

É evidente que as pessoas compram bolsas de marca porque querem expressar algo de si mesmas. No caso, querem dizer: eu posso pagar uma bolsa de 5 mil dólares. Se essa é a mensagem que você quer passar ao mundo, essa é a melhor forma. As marcas vendem essa mensagem. Não há nada de errado com isso, não julgo o comportamento, mas é assim que as coisas são. 

No entanto, se você não sente a necessidade de passar essa mensagem ao mundo, você pode comprar uma bolsa igualmente bem-feita, com design sofisticado, que custa 500 dólares, não 5000. Há pessoas que tem consciência que estão pagando pelo prestígio, não pela qualidade, mas há outras que não sabem, porque associam o couro a um item de luxo, e acham que o preço é por causa do couro. É essa mensagem que eu quero passar: não é preciso gastar uma quantidade exorbitante de dinheiro para ter um item de couro com qualidade e design.

As marcas de luxo perderam a qualidade ao longo dos anos?

Muita gente me fala isso, mas não sei dizer, porque nunca analisei uma bolsa vintage, somente as atuais. Eu desmembrei bolsas da Chanel, Prada, Bottega Veneta… e não são malfeitas, ao contrário, são muito bem-feitas. Em geral, acho satisfatória a qualidade das bolsas que desmembro. Mas não são excepcionais. O preço só é justificável se levarmos em conta o prestígio dessa marca. 

A experiência em destruir as bolsas e postar nas redes sociais está sendo válida para a sua marca, Pegai?

Eu tenho aprendido muito tanto sobre couro quanto sobre o diálogo com o público. Nós estamos tentando posicionar a marca entre o couro artesanal e o design sofisticado. Por um lado, as bolsas de marcas locais, que usam couro artesanal, não têm design sofisticado. Por outro, as marcas de luxo investem no design, mas o couro é padronizado, o que eu acho ruim. Eu espero que a Pegai – que vende online e faz entregas internacionais – consiga unir o melhor desses dois mundos. 

 

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